Na localidade onde trabalho existe um fenómeno paranormal... O portuguesismo... O portuguesismo é aquela capacidade de desenrasque nato com que todos nós nascemos; aquela capacidade de estar à vontade para não seguir etiquetas, normas socialmente criadas e ainda, a capacidade que queremos saber um pouco mais à cerca da vida dos nossos vizinhos. Estas são algumas de muitas outras características inerentes ao povo do “faduncho” e que nos demais países europeus não existe.
Ora vejamos... da vidraça da minha janela consigo ver um “lote” de velhotas à porta de casa, nos seus banquinhos a ver quem passa. Nada de transcendente, mas acontece que à frente de casa delas apenas passam 2 ou 3 carros, 8 “papa reformas” e 10 bicicletas durante todo o santo dia, o que deve dar uma emoção.. vai lá vai!!Imaginem o tempo que demora o “veículo especial” a atravessar toda a rua, para aí 20m... Ainda deve dar tempo para ir a casa meter o bacalhau na panela e beber um "copinho", e assistir à chegada à meta....
As pessoas que andam de bicicletas são uns “personage” do caraças... a última que vi a passar, levava um chapéu de chuva na mão, uns sacos de plástico presos no guiador, e como protecção à santa chuva um avental que vai-se a ver ainda faz as vezes de um pára lamas!!
Outra coisa interessante de se ver por estas bandas são as discussões entre marido e mulher... para quem está casado à mais de 40 anos não existe incomodo algum em haver espectadores (o lote de velhotas, inclusive), a assistiram à panóplia de palavras carinhosas que trocam entre si... Nomeadamente, como eu já ouvi.... “Á mulher de um cabrão!!”, o que nos remete para um pensamento profundo e filosófico ao questionarmos a quem é que o senhor chama cabrão... (esta relíquia ouvi não por cá, mas pelo Alentejo).
Mais uma curiosidade são as portas de algumas casas que se encontram à minha volta. Elas contêm recortes de calendários antigos com fotografias do ex-santo Padre e de Nossa senhora de Fátima... Assim, quando as pessoas batem à porta vão mas é pensar que “bateram as botas”, e que aquilo deve ser a porta do paraíso... mas depois vêem umas flores murchas mesmo ao lado, e uma senhora de bigode farfalhudo a abrir a porta... e a dúvida dissolve-se em três tempos...
Eu ainda tenho é esperança que outras características tipicamente portuguesas de denotem por estas bandas, nomeadamente a hospitalidade... Ainda ninguém me ofereceu um “copinho”, ou uma bela chouriça assada...
"Vizinha... Se me estás a oubir... dá-me binho!!! Cara***...”